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A vida que resiste no Cerrado

Atualizado: 23 de jan. de 2022

Em seu discurso na inauguração de Brasília, o presidente Juscelino Kubitschek, afirmou que quando chegou ao planalto central, “havia na grande extensão deserta apenas o silêncio e o mistério da natureza inviolada.” Essa visão de um Cerrado desértico não é exclusiva de Kubitschek. Pelo contrário, não é incomum ouvir alguém se referir ao bioma como feio, seco, monótono e sem vida.

A descrição do “sertão”, do interior do Brasil como lugar desértico, não civilizado e vazio de cultura, foi construída a partir da visão de colonizadores que forjaram riqueza e poder por meio da exploração da terra e do trabalho. Atualmente, a perpetuação dessa visão serve aos interesses do agronegócio, ajudando a justificar a exploração predatória do bioma.


Fonte: Cerrado em Quadrinhos


Não é à toa que a região do Cerrado é onde mais se expande o agronegócio brasileiro. E como resultado disso, desde 1970, metade do bioma foi convertido em extensas plantações e pastos para criação de gado. O cenário não é animador e, caso a supressão vegetal continue no ritmo atual, nos próximos 30 anos, o Cerrado poderá entrar em colapso, afirmam estudos.

O objetivo desse texto, entretanto, não é discutir os (desastrosos) problemas ambientais do Cerrado, mas atestar que ele não é desértico, feio e sem vida.

Ocupando uma área de 2 milhões de quilômetros, o que equivale a 22% do território nacional, o Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, perdendo apenas para a Amazônia. No bioma existem mais de 12 mil espécies vegetais catalogadas, sendo que mais de 4 mil só ocorrem no Cerrado.

Essas espécies estão organizadas e distribuídas no ambiente a depender de fatores como a profundidade dos lençóis freáticos, a qualidade do solo, a incidência solar e o relevo. Por esse motivo, o Cerrado não possui um único aspecto. Ao longo de sua extensão, é possível encontrar florestas, campos onde predominam gramíneas e arbustos e até campos cobertos de pedras e cactos.

Essa variedade de ambientes proporciona moradia para diferentes espécies de animais, fungos, protozoários e bactérias. O bioma tem 5% da biodiversidade do planeta, sendo o lar do lobo-guará e do pato-mergulhão. Esses são apenas dois exemplos dos ilustres moradores do Cerrado. Em realidade, estimativas sugerem que o bioma contenha 199 espécies de mamíferos, 180 de répteis, 864 de aves, 210 de anfíbios e 1200 de peixes. Além disso, apesar de pouco conhecida, estima-se que a diversidade de insetos no bioma chegue a 90 mil espécies. A vida resiste no Cerrado!

As imagens abaixo fazem parte do #ConhecerParaPreservar, um projeto lançado pelo movimento “A Vida no Cerrado” que busca instigar as pessoas a postarem fotos de animais, plantas, fungos e paisagens do bioma nas redes sociais. O objetivo da hashtag é mostrar que o Cerrado não é desértico ou feio, pelo contrário, é cheio de vida e bonitezas.



Texto de Cayo Alcântara, graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás e coordenador do movimento ‘A vida no Cerrado’.


Fontes:


  • Biodiversity Hotspots. Conservation International. Disponível em www.conservation.org/priorities/biodiversity-hotspots. Acesso em 18 jan. 2022

  • FERREIRA, Guilherme Braga; OLIVEIRA, Marcelo Juliano Rabelo. Descobrindo os mamíferos: um guia para as espécies do norte de Minas Gerais. Januária: Biografia, 2014. 132 p.

  • HOFFMANN, Gabriel Selbach et al. The Brazilian Cerrado is becoming hotter and drier. Global Change Biology, 2021.

  • MARTINELLI, Gustavo; MORAES, Miguel Avila. Livro vermelho da flora do Brasil; tradução Flávia Anderson, Chris Hieatt. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2013. 1100 p. Disponível em https://ckan.jbrj.gov.br/dataset/23f2e24c-5676-4acd-83f0-03621cba4364/resource/1c77ec02-b490-4caa-83dc-33a418488c70/download/livro-vermelho-da-flora-do-brasil–2013.pdf. Acesso em 18 jan. 2022.

  • RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M. T. Fitofisionomias do bioma Cerrado. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. (ed.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA – CPAC, 1998..

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