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Cervídeos do Cerrado - Um especial de Natal

Por: Luiz Trindade, Núcleo de Educação Socioambiental 


Ho Ho Ho! Feliz Natal, cerratenses! 


Hoje é o dia em que as crianças esperam que as renas do Papai Noel estacionem em seus telhados para o bom velhinho trazer presentes especiais, mas já parou pra pensar como seria se esse conto de Natal se passasse no Cerrado? No nosso tão amado bioma não existem renas, essas são lá do norte do planeta, mas os veados que ocorrem por aqui seriam bons substitutos para levar os mágicos presentes para todos os filhotes e crianças do Cerrado! Quer conhecer mais sobre as espécies de cervídeos que ocorrem no Cerrado? 


O veado-mateiro (Mazama americana), é conhecido também como veado-vermelho, veado-pardo e outros nomes populares. Ele é o maior representante do gênero Mazama, gênero que está sendo revisado recentemente, apresentando a altura do dorso entre 58 a 80 cm. Esses animais podem ser encontrados na América do Sul em florestas tropicais e subtropicais, possuem hábitos noturnos e solitários, mas podem ser encontrados em pares na época reprodutiva, a qual gera apenas um filhote por vez. A espécie apresenta uma pelagem castanho-avermelhada com a cabeça com um tom mais escuro. Os machos apresentam chifres simples e pequenos, em forma de espeto, sem ramificações, diferente do imaginário popular de como é um chifre de veado. O veado-mateiro é um animal que ainda necessita de estudos, por isso a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional Para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) considera o estado de conservação da espécie como ‘’dados insuficientes’’, porém sua população no Cerrado é considerada vulnerável pela perda de habitat.


Veado-mateiro (Mazama americana) - Foto por Bernard Dupont


Veado-mateiro (Mazama americana) - Foto por Bernard Dupont


O veado-catingueiro (Subulo gouazoubira), conhecido também como veado-virá, virá e outros nomes é um conhecido morador do Cerrado, habita outros biomas da América do Sul e no Brasil também é encontrado na Caatinga, por isso possui esse nome popular. O catingueiro fazia parte do gênero Mazama até recentemente, mas pesquisadores de genética dos cervídeos constataram que as espécies desse gênero não possuem o mesmo ancestral, portanto foi necessária a troca de gênero de algumas espécies. É uma espécie de pequeno porte, possuindo pelagem que varia do tom castanho-acinzentado a castanho-amarelado com uma mancha clara sobre os olhos em alguns indivíduos. Possuem o corpo menos robusto que o veado-mateiro, com orelhas grandes e pontas arredondadas; os machos também possuem chifres simples e sem ramificações. São animais de comportamento predominantemente diurno e solitário, formando pares para a reprodução, com um filhote por vez. São classificados com o estado de conservação "pouco preocupante" pela IUCN, mas também passam por mais ameaças a cada dia.


Veado-catingueiro (Subulo gouazoubira) - Foto por Ludmilla Alves.


Veado-catingueiro (Subulo gouazoubira) - Foto por Ludmilla Alves.


O veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) também conhecido como veado-branco, é uma espécie de cervídeo que fazia parte de grande parte da América do Sul, mas após o avanço humano e da agropecuária, seu território diminuiu mais de 95%. É uma espécie que gosta de campos naturais, sem vegetação densa, por isso se dá muito bem no Cerrado. Diferente dos veados anteriores, este possui um maior comportamento social, vivendo em pequenos grupos de até no máximo 6 membros, sendo a maioria dos grupos composto por um macho dominante e fêmeas. São de porte médio, os machos da espécie possuem chifres com 3 pontas quando atingem a idade adulta e a fase reprodutiva, são maiores que as fêmeas, chegando a 40 kg. Possuem uma pelagem alaranjada, com um anel de pelagem branca bem evidente em volta dos olhos e orelhas com cor branca na parte interna, o ventre também possui pelagem mais clara. Tem hábitos de predominância diurna e são considerados como “Quase ameaçados” pela IUCN. 


Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) - Foto por Fedaro.


Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) - Lucas Aosf.


Por último, mas não menos importante, o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) , também conhecido como suaçuetê, é o maior representante dos cervídeos na América do Sul, pesando entre 80 e 150 kg. É encontrado nas áreas alagadas de vegetação aberta do Pantanal, mas também é um morador de algumas regiões do Cerrado que sofrem inundações sazonais. Possui uma pelagem alaranjada característica, com o ventre esbranquiçado e braços e pernas pretos, lembrando o tão amado lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Os machos da espécie desenvolvem galhadas que podem possuir de 4 até 10 pontas. São animais solitários e de comportamento que varia entre o diurno e noturno, a época reprodutiva, gera um filhote, que diferentemente das espécies descritas, não possui pintas brancas na infância. Possui o status de  “Vulnerável” pela IUCN.


Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) - Foto por Jhonata Saldanha Supeleto.


Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) - Foto por Jhonata Saldanha Supeleto.


Estas belas e tímidas espécies de cervídeos que habitam o Cerrado enfrentam diversos problemas para a sobrevivência. O avanço das ações humanas, juntamente com o desmatamento e a caça são alguns dos principais desafios para a conservação. Além disso, o avanço do agronegócio, trazendo consigo monoculturas que reduzem o habitat e a criação de gado que introduz doenças para os cervos como a febre aftosa e a brucelose vêm se mostrando extremamente destrutivas para os animais silvestres. Essas espécies são essenciais na cadeia alimentar, tendo predadores como a onça-pintada (Panthera onca) e a onça-parda (Puma concolor), além de serem dispersores de diversas espécies de plantas do Cerrado. 


Como presente de Natal, queremos que a conservação dos cervídeos, que assim como as renas do papai noel realizam um papel tão importante, seja colocada em pauta e você? 



Referências:

CARMIGNOTTO, Ana Paula et al. Mammals of the Cerrado and Caatinga: distribution patterns of the tropical open biomes of Central South America. Bones, clones and biomes. The history and geography of recent Neotropical mammals (BD Patterson and LP Costa, eds.). University of Chicago Press, Chicago, Illinois, p. 307-350, 2012.

Azevedo, N. A. Oliveira, M. L., & Duarte, J. M. B. (2021). Guia ilustrado dos cervídeos brasileiros. Sociedade Brasileira de Mastozoologia.

 



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