Tramita na Assembleia Legislativa de Goiás (ALEGO) e na Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP), os projetos de lei 738/2023 e 1386 /2023, respectivamente, que pretendem incluir a “Semana do Cerrado” como tema de estudo no calendário escolar dos estados. Essa iniciativa representa um passo significativo na promoção da sensibilização sobre a importância do bioma Cerrado e na construção de uma sociedade que valoriza e protege esse ecossistema tão singular.
O Cerrado brasileiro é, sem dúvida, uma das joias da biodiversidade mundial, sendo conhecido como a savana tropical mais biodiversa do mundo. O bioma abriga uma riqueza inestimável de espécies animais e vegetais, muitas das quais são endêmicas, ou seja, são encontradas apenas nesta região. São mais de 12 mil espécies de plantas, 850 espécies de aves, 252 de mamíferos, 187 de répteis, 159 de anfíbios e incontáveis invertebrados. A diversidade biológica do Cerrado é tão surpreendente quanto desconhecida, com novas espécies sendo descobertas regularmente.
Acrescentamos um aspecto fundamental da importância do Cerrado que muitas vezes é subestimado: a economia pulsante e diversa que floresce a partir de sua extraordinária biodiversidade. O bioma Cerrado não é apenas um tesouro de flora e fauna, mas também um motor econômico vital para o Brasil. Sua riqueza biológica não apenas sustenta a vida selvagem, mas também impulsiona uma ampla gama de setores econômicos que contribuem significativamente para a economia nacional.
No mesmo sentido, sua biodiversidade serve como um ímã para o ecoturismo. Seus parques nacionais, reservas naturais e áreas de conservação atraem visitantes do mundo inteiro, gerando receitas para as comunidades locais por meio da hospedagem, alimentação e serviços turísticos.
Aliás, muitas plantas do Cerrado possuem propriedades medicinais e são fontes potenciais de fitofármacos e ingredientes naturais para a indústria de cosméticos. O aproveitamento sustentável dessas plantas pode gerar renda para comunidades locais e contribuir para a pesquisa científica.
Produtos como o pequi, o buriti, o baru e o jatobá são extraídos do Cerrado de maneira sustentável, com valor econômico. A partir do extrativismo sustentável, esses produtos são utilizados na alimentação, na produção de artesanato e na fabricação de cosméticos, proporcionando renda para as comunidades locais. Portanto, a proteção e valorização do Cerrado não apenas garantem a conservação de um patrimônio natural incomparável, mas também sustentam uma economia diversificada e dinâmica que contribui significativamente para o desenvolvimento do país.
Além disso, o Cerrado é o lar de comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais cuja cultura e modo de vida estão intrinsecamente ligados a esse bioma. Essas comunidades desempenham um papel fundamental na preservação e no conhecimento do Cerrado ao longo de gerações, transmitindo saberes ancestrais sobre a relação harmoniosa entre seres humanos e meio ambiente.
O Cerrado também desempenha um papel vital na manutenção do equilíbrio hídrico do Brasil. Este bioma abriga importantes nascentes e aquíferos que abastecem algumas das maiores bacias hidrográficas do país, incluindo a do Rio da Prata, do Tocantins, do São Francisco e do Paraná. Milhões de brasileiros dependem diretamente das águas que fluem do Cerrado para seu abastecimento de água potável e atividades agrícolas.
Ainda, o Cerrado age como um sumidouro de carbono, desempenhando um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas. Seus solos e vegetação capturam e armazenam grandes quantidades de carbono, contribuindo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e estabilizar o clima global.
A inclusão da “Semana do Cerrado” no calendário escolar é uma oportunidade ímpar de educar as gerações futuras sobre a importância do bioma. Ao sensibilizar nossos jovens sobre os valores intrínsecos do Cerrado, podemos promover a conservação, a restauração e o uso sustentável desse ecossistema precioso. Isso não apenas protegerá nosso patrimônio natural, mas também garantirá um futuro mais sustentável para as comunidades que dependem do Cerrado para sua subsistência.
A educação ambiental estimula o pensamento crítico e a criatividade, preparando os jovens para enfrentar os desafios ambientais e a crise climática. Isso pode resultar em inovações e soluções para questões relacionadas ao Cerrado, como agricultura sustentável e de baixo carbono, manejo de recursos hídricos e outras práticas conservacionistas que assegurem os serviços ecossistêmicos.
Através da educação ambiental, as escolas podem se tornar uma ferramenta poderosa para capacitar as comunidades locais a adotarem práticas sustentáveis que garantam a segurança hídrica, energética e alimentar, incluindo o desenvolvimento de atividades econômicas que respeitem o Cerrado e sua biodiversidade.
Nós, da A Vida no Cerrado (AVINC) e todas as organizações que assinam esta carta, instamos os ilustres deputados a considerar a aprovação desta proposta de lei como um ato de compromisso com a conservação do Cerrado e com a educação ambiental de nossos jovens. Ao fazer isso, contribuiremos para um Brasil mais consciente de sua riqueza natural, mais resiliente às mudanças climáticas e mais comprometido com a proteção de nossos patrimônios naturais.
Contamos com seu apoio e ação para que a “Semana do Cerrado” seja incorporada ao calendário escolar, assegurando um futuro para o Cerrado brasileiro e, certamente, para todos nós.
Assinam:
A Vida no Cerrado (AVINC)
Asibama - GO
Associação Alternativa Terrazul
Associação Mulheres na Comunicação
Associação Reserva Cachoeirinha
Biografia _brasil
Centro Acadêmico Livre de Engenharia Florestal (UFS)
Cipó Cerrado
Comissão Pastoral da Terra
Compaz
CONEA - Grupo de Pesquisa em Conservação da Natureza e Educação Ambiental
CREA Goiás
Festival Cerrado Vivo
Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad)
Global Shapers Belo Horizonte
Gueto Hub
Iniciativa das Religiões Unidas (URI)
Instituto Bertran Fleury
Instituto Internacional Arayara
Instituto Plantadores de Água
Instituto Pouso Alto
Instituto Regenerativo Tempo de Plantar
Instituto Santa Dica
Jovens pelo Clima Brasília
Movimento Internacional de Juventudes (MOV)
Movimento SOS Chapada dos Veadeiros
Ninho do Cerrado
Observatório de Políticas Socioambientais do Estado de Goiás
Olhares Quilombolas
PPGEO/IGEO/UFCAT
Programa de Pós Graduação em Geografia/Universidade Federal de Jataí
Rede Cerrado
Rede de Educação e Informação Ambiental de Goiás (REIA-GO)
Rede de Sementes do Cerrado (RSC)
Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente - SEMAMAR de Rianópolis/GO
Sindicato Rural Patronal de Londrina
Slow Food Cerrado
Universidade da Agricultura Familiar (UnAF)
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