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Foto do escritorA Vida no Cerrado

Por que as mulheres e a Terra “devem” tolerar tanto?

Atualizado: 9 de jul.


Há uns anos atrás, quando me descobri engajada na luta pela justiça social, encontrei uma frase que intersecciona duas realidades tectônicas: tanto a Terra quanto as mulheres precisam tolerar muito, demais.


Olhando para o Brasil dos últimos meses, temos o que comemorar. Anielle Franco é ministra da Igualdade Racial. À frente do histórico e inédito Ministério dos Povos Indígenas está a líder Sonia Guajajara. Marina Silva volta ao Ministério do Meio Ambiente e Cida Gonçalves é ministra das Mulheres. No Ministério dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.


Ao falarmos de representatividade política, no Congresso e nas Assembleias estaduais, são 16 mulheres, 5 delas trans ou travestis, e 14 pessoas negras.


O caminho para se trilhar é longo.

E precisamos nos responsabilizar, conscientes do espaço que ocupamos na sociedade. O que, por consequência, responsabiliza, também, as instituições e organizações com poder suficiente para transformação social e coletiva. Buscando, com fúria e alma, para que diversas formas de justiça social e ambiental não sejam apenas uma borboleta lépida, azul caliandra.


Guinando para a poesia, desequilibro a bicicleta.

E tento ligar duas resistências tão concretas: Cerrado e mulheres.


Ambos tão diversos - sem querer naturalizar construções, porque nada socialmente construído deve ser naturalizado.

Tento encontrar poesia em duas existências complexas, tão abstratas em si.

Porque simplesmente são.

E existir já basta.


Cerrado velho, um dos biomas mais antigos do mundo.

E como ser mulher - e se construir mulher, fortalecer laços entre mulheres - também é ancestralidade. E disrupção.


Escultura na forma de um fóssil de carvão, herança de queimadas espontâneas no bioma, causadas por raios em uma tempestade de verão há bilhões de anos atrás.

Resiste a vontade de simplesmente ser, porque já basta.

Ser sem empecilhos

Ser com respeito

Ser, caminhando com gentileza na terra, sem precisar correr tanto mais que outros

Ser em tantas cores e multifaces. Arco-íris, furta-cor.


Criar

Construir e desintegrar as tantas ideias de ser mulher


E existe esta frase da Frida que reforça em minha mente o que é tentar ser: “yo soy la desintegración”.

Talvez seja.

Como distúrbios espontâneos do Cerrado.

Como endemismo, diversidade tangível, cheiro de vento, rosa amarela, barulho de montanha tão mais velha.


Talvez alguma pedreira

uma ribanceira

uma barricada

lutas que tomam tantos nomes,

mas, como Cerrado, repousar.


Na placidez das águas de uma cachoeira,

simplesmente ser.

Porque lutar tanto cansa,

porque mosaico na casca de árvore,

porque florescer e, como árvores, espalhar apoio pelas raízes.

Como raízes e águas, espalhar. Expandir.


Fugindo da poesia - e tem como, de alguma forma? -, temos muito o que comemorar e expandir.


Texto por: Maria Alice dos Santos, Núcleo de Comunicação e Engajamento.

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