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Quando a Terra e os Povos do Cerrado resistem

Qual a relação entre a proteção do Cerrado e a luta indígena e das comunidades tradicionais no Brasil?



Por Maria Alice dos Santos, Núcleo de Comunicação e Engajamento


A Chapada dos Veadeiros, situada no bioma mais antigo do mundo, formado há aproximadamente 65 milhões de anos



É Abril Indígena. Entre os dias 24 e 28 de abril, acontece a maior mobilização dos povos indígenas no Brasil, na 19° do Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília (DF). A gente d’A Vida no Cerrado estará presente!


Diante desse contexto, ressoa uma pergunta: por que reforçar a importante relação entre a proteção do Cerrado e a luta indígena e das comunidades tradicionais no Brasil?



Povos do Cerrado: sabedoria e cuidado


Mais de 80 etnias indígenas habitam o Cerrado. São 44.118 pessoas, localizadas principalmente nos estados do Maranhão, Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Diversos são os povos, ligados principalmente aos grupos linguísticos Jê e Macro-Jê.


O engenheiro-agrônomo Carlos Eduardo Mazzetto, em obra adaptada de sua tese de doutorado, contextualiza: “No primeiro, encontramos os Timbira (que incluem os indígenas Canela, Krinkati, Pukobyé, Krenjé, Gavião, Krahô), os Kayapó (que incluem os Kubenkranken, Kubenkrañoti, Mekrañoti, Kokraimoro, Gorotire, Xikrin, Txukahamãe), os Xerente, Karajá, Xavante, Xakriabá, Apinayé (hoje tido como do grupo Timbira), Suyá, Kreen-Akarôre, Kaingang e Xokleng”.


“O tronco linguístico maior (Macro-Jê) incluiria ainda os indígenas Pataxó, Bororo, Maxakali, Botocudo, Kamakã, Kariri, Puri, Ofaié, Jeikó, Rikbatsá, Guató e Fulniô, além dos Guarani Kaiowá”, continua, no projeto O cerrado em disputa: apropriação global e resistências locais, divulgado em 2009.


Há mais de 12 mil anos, outras comunidades tradicionais também habitam o bioma mais antigo do mundo. Pescadores, ribeirinhos, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, fundo e fecho de pasto, retireiros do Araguaia, vazanteiros, agricultores familiares, geraizeiros, sertanejos, barranqueiros, acampados e assentados, por exemplo. Bons conhecedores do ambiente, os povos do Cerrado guardam, resistem e lutam pela proteção de seu lar.




A semente do pseudo-fruto Cajuzinho-do-Cerrado (Anacardium humile), também é aproveitada para a produção da amêndoa, após descascada e torrada. A coleta e venda do fruto faz parte da subsistência de populações cerratenses.



É neste contexto que movimentos sociais, organizações e articulações advogam por políticas públicas e atuação popular a fim de interromper a destruição do segundo maior bioma da América Latina - terra, águas, fonte de sustento e espaço ancestral. Conheça:




Acampamento Terra Livre 2023: O futuro indígena é hoje


Imagem de divulgação do Acampamento Terra Livre. Fonte: Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)



Maior mobilização dos povos indígenas no Brasil, o Acampamento Terra Livre (ATL) está em sua 19° edição neste ano de 2023 e acontecerá entre os dias 24 e 28 de abril, em Brasília (DF). Guiado pela temática “O futuro indígena é hoje. Sem demarcação, não há democracia!”, o título reitera a relevância da demarcação das terras originárias no país, prática constitucional drasticamente interrompida durante o Governo Bolsonaro.


Em entrevista concedida ao jornal Brasil de Fato, o coordenador-executivo da Apib, Kleber Karipuna, contou que o ATL também discutirá a emergência climática. “Os povos indígenas vão estar decretando emergência climática global por conta de tudo que está acontecendo. Os povos indígenas estão trazendo alerta sobre a situação insustentável do planeta há anos”, afirmou.


Histórica, esta edição da maior assembleia dos povos indígenas no Brasil é a primeira depois da criação do Ministério dos Povos Originários. Organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o ATL é construído conjuntamente com mais sete organizações. São elas: Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme); Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul); Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste (Arpinsudeste); Comissão Guarani Yvyrupa; Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab); Conselho do Povo Terena; e, por fim, a Assembleia Geral do Povo Kaiowá e Guarani (Aty Guasu).


Na última edição do Acampamento, em 2022, participaram mais de 8 mil indígenas, de 100 povos diferentes e de todas as regiões do Brasil, registra a Apib. A mobilização representou resistência e enfrentamento à agenda racista e anti-indígena do Governo Bolsonaro e também ressoou as candidaturas indígenas para o Congresso Nacional, fortalecendo a divulgação e reforçando a importância da representatividade nas instituições políticas do país.


Como resultado, foram eleitas as deputadas federais Célia Xakriabá e Sonia Guajajara. Pela primeira vez na história do país, após luta e articulação política, criaram o Ministério dos Povos Indígenas - ministrado atualmente pela liderança Sonia Guajajara. Inédito e simbólico para a autonomia indígena, finalmente a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) é comandada por uma presidente indígena: Joênia Wapichana. Com semelhante peso simbólico, a liderança Weibe Tapeba assumiu a posição de secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).



A Vida no Cerrado recomenda


Quer saber mais sobre o que é o Abril Indígena e quais as pautas esperadas para o ATL de 2023? Aprofundar na diversidade de experiências e sabedoria dos Povos do Cerrado e acompanhar o debate recente acerca do ecocídio no bioma? A gente indica alguns conteúdos para você!


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Artigo:


  • Ecocídio nos Cerrados: agronegócio, espoliação das águas e contaminação por agrotóxicos, escrito por Daniela da Silva EGGER; Raquel Maria RIGOTTO; Francco Antonio Neri de Souza e LIMA; André Monteiro COSTA; Ada Cristina Pontes AGUIAR. Publicado na edição especial "Agronegócio em tempos de colapso planetário: abordagens críticas", pela Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Paraná. Vol. 57, p. 16-54, jun. 2021. DOI: 10.5380/dma.v56i0.76212. e-ISSN 2176-9109.


Material jornalístico:



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